O passado remoto do rio Amazonas
Um rio e várias gerações com uma história. A erosão
nos Andes pode ter unido antigas bacias hidrográficas e formado o extraordinário rio Amazonas.
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Imagem de Jose Eduardo Camargo por Pixabay |
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Depois
de uma equipe do Rio de Janeiro ter concluído, com base em fósseis de peixes,
que há 2,5 milhões de anos um esboço do rio Amazonas corria para oeste e
desaguava em uma área hoje árida do Caribe, um geofísico de São Paulo apresenta
uma nova possível explicação para a formação do rio e da bacia Amazônica,
sugerindo que suas águas já fluíam para leste há muito mais tempo, há cerca de
10 milhões de anos.
A EROSÃO DAS CORDILHEIRAS DOS ANDES E O RIO AMAZONAS
De
acordo com essa proposta, obtida por meio de uma simulação matemática da
evolução do terreno e do depósito de sedimentos na região, o rio Amazonas teria
tomado seu sentido atual, de oeste para leste, não só em consequência de alterações
no interior da Terra que desencadearam um soerguimento da porção oeste da
Amazônia, de acordo com a abordagem tradicional, mas também como resultado da
movimentação da própria superfície terrestre. Um aumento na erosão das cordilheiras andinas
pelas intempéries teria criado o declive que se estende dos Andes à Ilha de
Marajó e por onde hoje escorre um quinto das águas fluviais do planeta.
"Mostrei
que a própria dinâmica da erosão e sedimentação teria sido capaz de modificar a
drenagem da região", afirma o geofísico Victor Sacek, professor da Universidade
de São Paulo (USP), que detalhou essa hipótese em um artigo publicado on-line em julho na revista Earth and
Planetary Science Letters. Suas conclusões convergem com as do geólogo Paulo Roberto Martini,
cuja equipe estabeleceu em 2008 o rio Amazonas como o mais extenso do
mundo.
"A
rapidez com que os Andes crescem e a erosão que o Amazonas provoca na cordilheira
são monumentais", diz Martini. "O rio transporta para o mar o
equivalente a mais de um Pão de Açúcar inteiro de sedimentos por
mês."
VOLTANDO NO TEMPO: O RIO AMAZONAS DO PASSADO
Para
entender essa hipótese, é preciso rever a evolução da paisagem na região. Há 24
milhões de anos, no início do período geológico conhecido como Mioceno, as
nascentes dos rios do norte da América do Sul não ficavam nos Andes, como hoje,
mas em relevos bem menos expressivos a oeste, que dividiam as águas da região
em duas bacias hidrográficas distintas.
A
leste do divisor de águas, os rios desciam em direção à atual foz do Amazonas.
A oeste, os rios seguiam na direção oposta, rumo a bacias aos pés dos Andes, e
alimentavam imensos lagos e pântanos, que formavam uma área alagada 20 vezes
maior que o atual pantanal mato-grossense, conhecido como Sistema Pebas.
A
geóloga Carina Hoorn,
da Universidade de Amsterdã (Holanda), com base em rochas e fósseis colhidos à
margem de rios, argumenta que as bacias separadas pelo Arco Purus teriam
começado a se fundir há 16 milhões de anos. Desse modo, o rio Amazonas e sua
bacia teriam ganho sua extensão atual durante os 6 milhões de anos seguintes,
quando a inclinação do relevo do norte do continente fez a água dos lagos entre
os Andes e o Arco Purus começar a fluir por rios preferencialmente para leste.
A
equipe do geólogo Jorge
de Jesus Figueiredo, da Petrobras, depois de coletar e analisar
amostras de rochas em poços de sondagem no fundo do mar próximo à foz do
Amazonas, chegou a conclusões que reforçaram a hipótese de Carina.
Referências
Y. Ricard. Drainage reversal of the Amazon River due to the coupling of surface and lithospheric processes. Departamento de Geofísica, Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, Universidade de São Paulo, Rua do Matão 1226, 05508-090, São Paulo, Brazil
Sites: Planeta Sustentável
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