QUAIS SÃO OS TIPOS DE CUIDADO PARENTAL QUE OS ANFÍBIOS TEM COM SEUS FILHOTES?

O cuidado parental foi um sucesso evolutivo para muitos animais. Aqui mostraremos como é o cuidado que os anfíbios tem com seus filhotes.

Macho do sapo-parteiro europeu (Alytes obstetricans) protegendo seus ovos. Fonte da imagem: Bernard DUPONT from FRANCE, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

VAMOS DESCOBRIR...

OS ANFÍBIOS E O CUIDADO PARENTAL


Os adultos de muitas espécies de sapos, rãs e pererecas, ou seja os Anura em geral, guardam seus ovos de maneira específica. Em alguns casos, é o macho que protege os ovos; em outros, é a fêmea. Na maioria dos casos, não se sabe claramente qual sexo está envolvido, pois a identificação sexual externa é difícil em muitas espécies. Alguns deles desovam acima da linha d'água permanecem com seus ovos. Algumas espécies sentam-se ao lado dos ovos; outras descansam sobre eles.

Vejam na imagem abaixo alguns tipos de cuidado parental observados nos Anura, depois vamos explicar em detalhes.

Figura 2. Desenvolvimento do ovo e cuidado parental entre os anfíbios: (a) ovos postos acima da água, Centrolenella, Centrolenidae; (b) ovos em um ninho de espuma, Physalaemus, Leptodactylidae; (c) ovos carregados pelo adulto, Rhinoderma, Rhinodermatidae; (d) girinos carregados pelo adulto, Colostethus, Dendrobatidae. Ovos carregados sobre o dorso de um adulto: (e) Hemiphractus, Hylidae; (f) Sapo Pipa, Pipidae. Fonte da imagem: adaptado de POUGH, 2006.

Anfíbios que protegem seus ovos no ninho


Muitos anfíbios terrestres, que põem ovos de desenvolvimento direto, ou seja permanecem com eles e atacam os animais que se aproximam do seu ninho. A saída do anfíbio guardião geralmente resulta no dessecamento e morte dos ovos antes da eclosão ou em predação. O macho da rã-touro-africana (Pyxicephalus adspersus) protege seus ovos e continua a proteger os girinos após a eclosão. O macho acompanha o cardume de girinos e até escava um canal para permitir que nadem de uma poça a outra no alagado.

Os girinos de várias espécies do gênero tropical americano Leptodactylus seguem a mãe em torno da lagoa. Os Leptodactylus são anfíbios grandes e agressivos, capazes de afastar muitos predadores potenciais.

Alguns sapos-veneno-de-flecha dos trópicos americanos desovam no solo e um dos pais permanece com os ovos até eclodirem em girinos. Os girinos aderem ao adulto e são transportados até a água. As fêmeas do sapo-panamenho (Colostethus inguinalis) carregam os girinos por mais de uma semana e, durante esse período, os filhotes aumentam de tamanho (veja na Figura 2 d).

Os maiores girinos carregados pelas fêmeas possuem pequenas quantidades de vegetais no estômago, sugerindo que haviam começado a se alimentar enquanto ainda estavam sendo transportados pela mãe. As fêmeas de outro sapo-veneno-de-flecha da América Central, o Dendrobates pumilio, liberam os girinos em pequenas poças de água nas axilas das folhas de plantas, ali retornando a intervalos para depositar ovos não-fecundados que são comidos pelos girinos.

Anfíbios que carregam seus ovos


Outros anfíbios, em vez de permanecer com os ovos, carregam-nos consigo. O macho do sapo-parteiro europeu (Alytes obstetricans) reúne os cordões de ovos em torno das patas traseiras à medida que a fêmea os põe (veja na foto da entrada da postagem). Ele carrega os ovos até que estejam prontos para a eclosão, momento em que libera os girinos na água.


O macho do sapo-de-darwin (Rhinoderma darwinii), uma espécie terrestre chilena, abocanha os ovos postos pela fêmea e os carrega nas suas bolsas vocais, que se estendem até a região pélvica (veja nas Figuras 2 (c)). Os embriões sofrem metamorfose nos sacos vocais e emergem como filhotes totalmente desenvolvidos. Os machos não são os únicos a cuidar dos ovos.

As fêmeas de um grupo de pererecas carregam os ovos nas costas, numa depressão oval aberta, numa bolsa fechada ou em bolsas individuais. Os ovos desenvolvem-se em miniaturas de pererecas antes de abandonarem o dorso da mãe.

Uma especialização similar é observada no sapo totalmente aquático do Suriname, o Pipa pipa (veja na Figura 2 f). Na estação reprodutiva, o tegumento do dorso da fêmea se toma espesso e macio. Na ovipostura, o casal abraçado sai nadando em círculos verticais. Na parte superior do círculo, a fêmea está sobre o macho e libera alguns ovos que caem sobre a superfície ventral dele. O macho fecunda os ovos e, na parte inferior do círculo, pressiona-os contra o dorso da fêmea. Os ovos penetram no tegumento macio e forma-se uma cobertura sobre cada um deles, envolvendo-os em uma pequena cápsula. Os ovos se desenvolvem até a metamorfose dentro das cápsulas.

As fêmeas da família Leptodactylidae (veja na Figura 2 b), da espécie Eleutherodactylus cundalli, e machos de dois da família Microhylidae da Nova Guiné (Liophryne schlaginhaufeni e Scaphiophryne comuta) carregam filhotes em seus dorsos. Os machos de Liophryne carregam os filhotes por períodos de três a nove noites e alguns pulam de seu dorso a cada noite (Bickford, 2002).

Leia também:

Anfíbios que carregam seus girinos no estômago


Os girinos de duas espécies do gênero australiano Rheobatrachus são carregados no estômago da fêmea. A fêmea engole os ovos ou as larvas recém-eclodidas, retendo-os no estômago até a metamorfose. Esse comportamento foi descrito pela primeira vez no Rheobatrachus silus e era acompanhado por extensas modificações morfológicas e fisiológicas do estômago.

Essas mudanças incluem a distensão da porção cranial do estômago, a separação de células musculares individuais do tecido conjuntivo adjacente e a inibição da secreção de ácido clorídrico, talvez através da prostaglandina liberada pelos girinos.

Em janeiro de 1984, uma segunda espécie de anuro com incubação gástrica, R. vitellinus, foi descoberta em Queensland. Estranhamente, essa espécie não tem as extensas modificações estruturais do estômago que caracterizam a incubação gástrica de R. silus.

Diferenças notáveis entre as duas espécies sugerem a possibilidade surpreendente de que esse bizarro modo de reprodução tenha evoluído independentemente. Ambas as espécies de Rheobatrachus desapareceram poucos anos depois de descobertas e não há qualquer explicação óbvia para a aparente extinção desses anuros fascinantes.

Referências
Bickford, D.  2002.  Male parenting of New Guinea froglets. Nature 418:601-602.
POUGH, F. Harvery; JANIS, Christine M; HEISER, John B. A vida dos vertebrados. Atheneu Editora São Paulo, 2006.

Nenhum comentário:

Imagens de tema por konradlew. Tecnologia do Blogger.