Os assaltantes dos mares

Das profundezas do oceano eles vem para atacar e assaltar quem estiver pela frente.


Imagem de YES 😊 I Love the Nature 🌻💕 por Pixabay 


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"Derrotado pela esquadra real, o pirata tenta ainda alcançar a ilha a nado; mas surgem ameaçadores os tentáculos de um polvo. Com o facão em punho, tenta fugir do ataque, cortar os braços que já começam a agarrá-lo. Mas o esforço é em vão: no abraço fatal, o pira ta é arrastado para o fundo do mar, terminando assim seus dias de saque."


Este é o clássico fim de muitas estórias de pirataria, com a costumeira derrota do mal pelas forças da natureza. No entanto, se a vítima soubesse um pouco a respeito da anatomia do polvo, poderia muito bem ter-se livrado do abraço mortal. Bastava golpear o espaço entre os olhos, onde se situa o centro nervoso do .polvo, e a morte seria instantânea. Mergulhadores e caçadores de pérolas conhecem bem o ponto fraco do inimigo. Sabem, por exemplo, que de nada vale cortar um tentáculo, pois o polvo tem mais sete para continuar o ataque.


Por estranho que pareça, este animal ameaçador é parente do caracol, da lesma, da ostra, ou melhor, também é um molusco. É o mais conhecido de toda a classe dos cefalópodes, isto é, dos que têm "os pés na cabeça" (do grego, kephalé = cabeça; poús, podós = pé). Esses pés poderiam ser chamados de braços, pois servem tanto para a locomoção como para agarrar as presas. Mas o nome certo é tentáculo, em número de oito nos polvos e che-gando a dez nas lulas e sitias, chamadas por isso decápodes.


Mas os polvos capazes de devorar homens são mais comuns nas estórias de piratas. A maioria não atinge 3 metros de envergadura. Existem alguns de apenas poucos centímetros de comprimento, que só ameaçam a vida dos pequenos habitantes marinhos. Felizmente para todos que andam pelos mares, o maior cefalópode conhecido vive nas profundezas do oceano. É a lula-gigante, que com os longos tentáculos chega a atingir 20 metros, um dos maiores invertebrados que se conhecem.


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Nem caracol, nem vertebrado


Nas noites calmas podem ser vistos em algumas regiões do oceano Atlântico, inclusive nas águas brasileiras, cortejos de argonautas navegando a vela pela superfície. São fêmeas do Argonauta argo, com as conchas erguidas como estranhas embarcações. Maiores que os machos, elas entram e saem da concha com grande facilidade e servem-se dela não só para navegar, mas principalmente para proteger os ovos. Além do argonauta, só exis-te urna espécie de cefalópode que conserva a concha externa: é o náutilo, único sobrevivente de um grupo que viveu há cerca de 500 milhões de anos, e que habita o Atlântico. Como o polvo, o argonauta e o náutilo possuem também oito tentáculos.


A grande maioria dos cefalópodes polvos, lulas, sitias não possui a proteção calcária por fora do corpo. Essa formação, que no caracol, ostra e outros moluscos aparece como concha, fica por dentro, quase como o esqueleto dos vertebrados, do qual difere, pois não serve de sustentáculo para o corpo. A concha ocupa uma parte reduzida da estrutura interna; o restante é preenchido pelos diversos órgãos e o conjunto todo é recoberto por uma só bolsa, chamada manto. Fora dele sobressaem a cabeça e, em torno dela, os tentáculos, recobertos em toda a superfície por saliências fosforescentes.


Na cabeça, ao centro da coroa de tentáculos, esconde-se a boca, um par de grossas mandíbulas, como um bico de papagaio. E, dentro da boca, uma língua muito especial: a rádula, coberta de minúsculos "dentes", funciona como um ralador. É a principal arma de ataque de todos os cefalópodes, que, simultaneamente, segregam uma saliva venenosa capaz de paralisar a vítima. Ao lamberem um peixe com essa língua, têm já a presa garantida.


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Por que tantos pés?


Os oito tentáculos do polvo, os dez da siba e da lula, têm muitas funções. Servem corno arma de defesa e ataque, meio de lo-comoção e sustentação e até mesmo como membro reprodutor. Em muitas espécies o acasalamento é feito com auxílio de um dos tentáculos. No polvo, em geral, é o terceiro, preso do lado direito; e nas lulas é o quarto, do lado esquerdo. Com esse membro o macho deposita os espermatóforos numa espécie de bolsa (cavidade paleal) da fêmea, que, mais tarde, põe os ovos de onde sairão os filhotes.


Além disso, os tentáculos são úteis para manter o animal preso ao solo, ou para segurar as vítimas. A tarefa é facilitada pelas inúmeras ventosas, dispostas de modos diferentes conforme a espécie. Como um desentupidor de pia que se prende à parede, elas aderem às superfícies mais lisas. Ao mesmo tempo, funcionam também como órgãos de tato. Algumas destas espécies dispõem também de pontas afiadas, localiza-das nas bordas das ventosas, que lhes permitem capturar os peixes escorregadios, os de pele muito lisa.


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Estrategistas natos


Durante muito tempo, a sépia (ou siba) era criada na China com todo zelo. O objetivo era comercial. Numa espécie de bolsa interna, os cefalópodes possuem um reservatório de um líquido espesso e escuro, usado para fabricar tinta nanquim, ou tinta da China. Para as sibas, polvos e lulas a função dessa reserva é defensiva: agredidos por outros animais caçadores, expelem o líquido sobre o perseguidor, formando uma espécie de "cortina de fumaça".


Além de todos esses recursos estratégicos, os cefalópodes contam ainda como meio de ataque ou defesa com o mimetismo, ou seja, a capacidade de assumir a cor da superfície onde estão. Na ilus-tração pode ser visto o maior especialista em camuflagem, o polvo em repouso, da cor da rocha sobre a qual se instalou. Quando urna presa se aproxima, ele rapidamente desenrola os tentáculos, ou sai ao encalço da vitima.


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Muito coração e sangue azul


Os poetas vivem cantando o coração do homem, mas nisso o polvo ganha de longe, pois tem três. Com vida muito mais movi-mentada que todos os outros moluscos, os cefalópodes despendem muita energia. Por isso, seu organismo requer farta irrigação sanguínea. Dois dos corações situam-se na junção das brânquias, ale-tas de função semelhante em todos os animais marinhos: absorver o oxigênio dissolvido na água. Os dois corações branquiais jogam para o interior das aletas o sangue impuro que vem do resto do corpo. Nas brânquias, o sangue absorve o oxigênio e caminha para o coração central. Deste coração sai o sangue oxigenado que vai distribuir-se pelo corpo, voltando depois, como sangue venoso, para os corações branquiais. Outra característica dos cefalópodes, como de todos os moluscos, é o sangue incolor ou levemente azula-do. O pigmento encarregado de absorver o oxigênio é a hemocianina, que contém cobre, ficando azul ao assimilar o gás.


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Em águas brasileiras


Nos mares brasileiros são encontrados 24 tipos de cefalópode. Os mais conhecidos são duas espécies de lula, sete de polvo e duas de argonauta. Mas ao todo existem, espalhadas pelos mares do mundo, cerca de 150 espécies de polvo, 80 de sitia e 350 de lula. Polvos, lulas e sitias que não vivem em águas muito profundas alimentam-se de peixes, camarões, crustáceos. Contra eles, a concha dos mo-luscos não basta como proteção: facilmente ela é quebrada pelos tentáculos e o interior "limpo" pela rádula. Na ilustração do alto pode ser vista uma lula devorando um arenque. Com os dois tentáculos maiores, mantém a presa subjugada; com os outros, leva-a pouco a pouco em direção à boca, enquanto com o bico descarna e devora a vítima. O refúgio e posto de espreita desses predadores de tantas armas são as grutas submarinas. Na porta de entrada ficam os despojos das vítimas, restos de crustáceos, conchas vazias.

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