COMO OS LAGARTOS CONSEGUEM SOLTAR A CAUDA E FUGIR DE PREDADORES?

Muitos animais tem que se virar para sobreviver. Mas muitos desenvolveram habilidades extremas para deixar seus predadores pra trás.

https://www.bioorbis.org/2018/12/lagartos-autotomia-cauda.html
Este pequeno lagarto conseguiu escapar de um predador. Imagem de Marc Pascual por Pixabay 

VAMOS DESCOBRIR...


AUTOTOMIA CAUDAL, UMA ESTRATÉGIA DE SOBREVIVÊNCIA


Autotomia (auto-amputação) de apêndices é um mecanismo comum de fuga de predadores entre os invertebrados e vertebrados. A cauda é o único apêndice conhecido que os vertebrados autotomizam e a capacidade para autotomia caudal está desenvolvida em algum grau entre salamandras, tuatara, lagartos e em poucas espécies de Amphisbaenia, serpentes e roedores (Arnold, 1988). Na maioria dos casos, a autotomia é seguida pela regeneração de nova cauda.

A autotomia caudal dos Squamata (ordem que inclui répteis bastante conhecidos, como lagartos, anfisbênias e serpentes) ocorre em planos especiais de fratura, encontrados em todas as vértebras caudais, exceto da quarta à nona vértebras mais craniais. Os músculos caudais são segmentares e os processos atilados de segmentos adjacentes interdigitam-se. As artérias caudais possuem esfíncteres musculares imediatamente anteriores a cada plano de fratura e as veias possuem válvulas. A autotomia parece ser um processo ativo que requer a contração dos músculos da cauda, flexionando-a fortemente para o lado e iniciando separação.

O centro vertebral se rompe e os processos dos músculos caudais se separam. Os esfíncteres musculares arteriais se contraem e as válvulas venosas se fecham, evitando a perda de sangue. Uma cauda autotomizada agita-se rapidamente, por vários minutos, e esse violento estremecimento pode distrair a atenção do predador enquanto o próprio lagarto põe-se em segurança.

As caudas de alguns juvenis da família Scincidae são azuis e brilhantes e, em experimentos, lagartos com essas caudas coloridas foram mais eficientes no uso da autotomia para escapar de serpentes predadoras, do que lagartos cujas caudas foram pintadas de preto. Obviamente, um a cauda autotomizada não recebe fluxo sanguíneo sua atividade muscular é sustentada por metabolismo anaeróbico. A capacidade metabólica anaeróbica dos músculos da cauda dos lagartos parece ser substancialmente maior que a dos músculos dos membros.

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O ponto de autotomia é, normalmente, tão caudal na cauda, quanto possível. Quando a cauda de um lagarto é segura com um a pinça, a autotomia geralmente ocorre no plano da vértebra imediatamente anterior ao ponto onde a cauda foi presa, minimizando, assim, a porção de cauda perdida. Quando a cauda se regenera, as vértebras são substituídas por um bastão de cartilagem que não contém planos de fratura.

Consequentemente, a futura autotomia deve ocorrer cranialmente à porção regenerada. Algumas lagartixas ajustam o ponto de autotomia de acordo com sua temperatura corporal: a autotomia ocorre mais próxima ao corpo quando o lagarto está frio do que quando está aquecido.

Quando um lagarto está frio ele não consegue correr tão rápido com o quando está aquecido, e provavelmente, o longo segmento de cauda deixado para trás por um lagarto frio, ocupa a atenção de u m predador por tempo suficiente que permite ao lagarto alcançar segurança.

Sua cauda ou sua vida


Deixar a cauda na posse de um predado é, certamente, melhor do que ser devorado, mas isto não está livre de custos. A cauda funciona com o um sinal de "status " entre algumas espécies de lagartos e um lagarto que autotomiza um a grande porção de sua cauda, pode cair para um a posição inferior na hierarquia de dominância.

A perda da cauda também afeta o balanço energético de um lagarto; a taxa de crescimento de lagartos juvenis que autotomizaram a cauda permanece reduzida enquanto suas caudas estão sendo regeneradas. Muitos lagartos armazenam gordura na cauda as fêmeas mobilizam essa energia quando depositam vitelo nos ovos. Sessenta por cento do total de gordura armazenada pelas fêmeas da lagartixa Coleonyx brevis estava localizada na cauda.

A autotomia da cauda por fêmeas grávidas de lagartixas resultou na produção de posturas menores do que em fêmeas com cauda. Alguns lagartos, especialmente o pequeno Scincidae norte-americano Scincella lateralis, ingerem suas caudas autotomizadas quando podem, recuperando, assim, a energia perdida.

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Referências
Arnold, E. N.  1988. Caudal autotomy as a defense. In C. Gans and R. B. Huey (Eds.), Biology of the Reptilia, vol.  16. New York, NY: Liss, pp. 235-273.
POUGH, F. Harvery; JANIS, Christine M; HEISER, John B. A vida dos vertebrados. Atheneu Editora São Paulo, 2006.

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