AS SERPENTES EXÓTICAS NO BRASIL: QUAIS SÃO OS RISCOS E IMPLICAÇÕES?

Espécie exótica pode ser definida como aquela que não é oriunda de determinado ambiente, região ou continente.

Imagem de Silvia por Pixabay 

VAMOS DESCOBRIR...

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A introdução de espécies exóticas na localidade-alvo pode resultar da atividade humana, ativa (intencional) ou passivamente (acidental). Os principais problemas decorrentes da introdução de animais exóticos seriam:

1 – Redução das populações nativas pela predação;
2 – Alteração na estrutura da comunidade de destino;
3 – Introdução de parasitas associados;
4 – Ameaça à saúde pública por zoonoses, mordidas ou envenenamento.

O desenvolvimento da comunicação e o comércio internacional intensificam esse problema. Em alguns minutos pode-se encontrar uma longa lista de espécies à venda pela Internet, muitas citadas pelo CITES (Comitê Internacional de Espécies Ameaçadas) e IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) como sob ameaça de extinção.

A introdução de serpentes exóticas


No caso específico de serpentes, um exemplo de introdução acidental com a implicações muito bem documentadas é o do colubrídeo Boiga irregularis (brown tree snake) na ilha de Guam. Originária da Austrália e Nova Guiné, acredita-se que tenha chegado ali através de aviões militares, durante movimentação de tropas na Segunda Guerra Mundial.

Assim como o viperídeo Protobothopsi (ex-gênero Trimeresurus) flavoviridis (habu) em algumas ilhas japonesas, ambas são consideradas serpentes-problema e exigem recursos vultosos para seu controle.

A serpente Lycodn aulicus capucinus (Wolf snake) originária do sudeste da Ásia e oeste da Indonésia é um colonizador recente das Ilhas Christmas no Oceano Índico.

A jibóia Boa constrictor teria sido introduzida na ilha de Cozumel, México, durante a gravação de um filme. As grandes serpentes constritoras (como a píton), que matam suas presas por asfixia, são reconhecidamente perigosas ao homem devido a seu tamanho e força. Comumente importadas e criadas como animais de estimação, elas têm causado mortes nos Estados Unidos, tendo recebido maior atenção das agências ambientais.

Situação das serpentes exóticas no Brasil


No Brasil, o único estudo disponível sobre serpentes “alienígenas” refere-se a um universo amostral restrito: a cidade de São Paulo. Como principal centro de negócios brasileiro, essa capital concentra também a comercialização de animais de estimação, reforçando sua validade como indicadoras do processo de introdução de espécies no país.

A despeito da proibição de importação de serpentes exóticas e a comercialização de espécies nativas (artigo 31 da Lei Federal nº 93/98, de 7 de julho de 1998), o tráfico ilegal é notório, tendo em vista as recentes apreensões por parte do Ibama. A situação ilegal leva à manutenção inadequada desses animais em cativeiro. Sem o acompanhamento profissional, as doenças são favorecidas e as serpentes tornam-se introdução de espécies exóticas um estorvo para seus proprietários, o que leva ao abandono desses animais em vários locais da cidade. A maioria desses locais de descarte são submetidos a diferentes graus de atividade antrópica e abrigam pelo menos 26 espécies de serpentes nativas.

Implicações ambientais da introdução de serpentes exóticas


A introdução de serpentes em áreas de preservação é especialmente preocupante, já que na concepção popular “a floresta é o habitat das cobras”. Um sinal concreto dessa ameaça ambiental foi a captura de um indivíduo de Lampropeltis getula no Parque Estadual de Ilhabela (SP), na Mata Atlântica litorânea. Vale ressaltar que as serpentes euriécias, isto é, aquelas que possuem um nicho ecológico amplo e cujas necessidades de recursos e condições são pouco restritas, constituem-se no principal fato de perigo devido a sua peculiar adaptabilidade.

A intencionalidade na introdução das serpentes exóticas


Em nossa sociedade, é perceptível o interesse crescente pelas serpentes como bichos de estimação, podendo-se efetuar conjecturas sobre as causas desse processo. O mundo humano é hoje radicalmente urbano. O anseio e a necessidade do homem pelo vínculo com a natureza faz que um mero contato superficial promova o seu bem-estar. As serpentes satisfazem de forma espetacular esses desejos, pois são amplamente adaptáveis ao cotidiano urbano: pequenos espaços, pouca exigência de cuidados de manutenção e ausência de vínculos emocionais fortes. Também é mais fácil desfazer-se do animal, já que o componente emocional é tênue. Além desses aspectos a ruptura cm o convencional e o “neofilismo” certamente atuam de forma muito poderosa.

Desde os primórdios, o homem está em conflito com algum tipo de vertebrado. A resposta para a possibilidade de que alguma população de serpente exótica perigosa ou não se estabeleça, ou cause algum tipo de problema em alguma parte do território nacional, não é facilmente respondida. Entretanto, tendo em vista a capacidade de adaptação das serpentes, esta é uma questão que demanda constante vigilância.

Imprevisibilidade é o que a história tem demonstrado com a entrada de um organismo “alienígena” a um determinado ecossistema. A espécie Boiga irrecularis já estava não apenas populacionalmente estabelecida na ilha de Guam causando extinções de aves e lagartos, predando animais domésticos, provocando blecautes, bem como causando acidentes humanos principalmente em crianças.

Referência 
CARDOSO, et al. Animais Peçonhentos no Brasil. Biologia, Clínica e Terapêutica dos acidentes. Sarvier. 2009.

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