Será mesmo que existem anfíbios no deserto?
Uma pergunta intrigante. Os anfíbios são conhecidos por
viverem em lagos, brejos e pântanos, mas como eles, e se é possível, viverem no
deserto?
O sapo pé-de-espinho do Novo México (Scaphiopus multiplicatus). Sarah Beckwith, Public domain, via Wikimedia Commons |
VAMOS DESCOBRIR...
A pele dos anfíbios
A pele permeável e as
altas taxas de perda de água são características que parecem tornar os anfíbios
improváveis habitantes dos desertos, mas certas espécies são abundantes nos
habitats desérticos. Mais notável é o
fato de que esses animais obtiveram sucesso no deserto por causa da sua pele
permeável e não a despeito dela.
Os anuros estão entre
os anfíbios que mais podem ser encontrados no deserto, mas as salamandras-tigre
são encontradas nos desertos da América do Norte e muitas espécies de salamandras da família Plethodontidae ocupam habitats sazonalmente secos na Califórnia.
Os sapos pé-de-espinho do
Novo México (Scaphiopus multiplicatus)
são os anuros do deserto mais estudados. Eles habitam as regiões desérticas
da América do Norte, incluindo as margens das Algodones Sand Dunes, no sul da
Califórnia, onde a precipitação anual média é de apenas 6 centímetros e, em alguns
anos, nem chuva há. Uma análise dos mecanismos que permitem a um anfíbio viver
em um ambiente como esse, deve incluir uma consideração tanto sobre a perda
como o ganho de água. A pele dos anfíbios do deserto é tão permeável à água
quanto à das espécies de anfíbios de regiões úmidas.
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COMO OS ANFÍBIOS CONSEGUEM SOBREVIVER NO DESERTO?
Um anuro do deserto
deve controlar, através do comportamento, a sua perda de água, escolhendo micro
habitats protegidos, livres da radiação solar e do movimento do vento.
Diferentes espécies de anuros utilizam diferentes micro habitats - a concavidade
em um banco de aluvião do deserto, um buraco de esquilo terrestre ou de
rato-canguru ou um buraco que o próprio anuro escava. Todos esses lugares são
mais frios e úmidos do que o solo exposto.
Os anuros do deserto
passam extensos períodos sob o solo, emergindo para a superfície somente quando
as condições são favoráveis. Os sapos pé-de-espinho (Scaphiopus multiplicatus) constroem buracos de cerca de 60
centímetros de profundidade, enchendo a abertura com lama e deixando uma pequena
câmara no fundo, que eles ocupam. No sul do Arizona, os sapos constroem esses
buracos em setembro, no final da estação chuvosa do verão e permanecem neles
até a chuva do próximo mês de julho.
No final da estação
chuvosa, quando inicialmente os sapos se enterram, o solo é relativamente
úmido. A tensão de água criada pela pressão osmótica normal dos fluidos corporais
estabelece um gradiente, favorecendo o movimento de água do solo para o sapo.
Nessa situação, um sapo enterrado pode absorver água do solo como fazem as
raízes das plantas. Com o suprimento de água disponível, um sapo pode excretar
urina para eliminar seus excretas nitrogenados.
A medida que o tempo
passa, o conteúdo de umidade do solo diminui e seu potencial de umidade
torna-se mais negativo, até que iguale o potencial hídrico do sapo. Nesse
ponto, não há mais gradiente permitindo movimento de água para o interior do
sapo. Quando sua fonte de água nova é cortada, um sapo para de excretar urina e
retém ureia em seu corpo, aumentando a pressão osmótica de seus fluidos corporais.
Concentrações osmóticas tão altas quanto 600 miliosmóis [kg FLO]"1 foram
registradas nos sapos pé-de-espinho (Scaphiopus
multiplicatus) emergindo dos buracos no fim da estação seca. O baixo
potencial de água produzido pela alta pressão osmótica dos fluidos corporais do
sapo pode reduzir o gradiente de água entre o animal e o ar, na sua câmara
subterrânea, de modo que a perda de água por evaporação é reduzida. As pressões
osmóticas internas, suficientemente altas, poderiam criar potenciais que
permitiriam aos sapos absorver água mesmo de solo muito seco.
A habilidade para
continuar drenando água do solo possibilita a um sapo pé-de-espinho permanecer enterrado por 9 ou 10 meses sem
acesso à água no estado líquido. Nessa situação, sua pele permeável não é uma
desvantagem - é uma característica essencial da sua biologia.
Se o sapo pé-de-espinho tivesse uma
pele impermeável ou se ela formasse um casulo impermeável, como alguns outros
anfíbios fazem, a água não poderia se deslocar do solo para o animal. Ao invés
disso, o sapo teria que depender da água contida em seu corpo quando enterrado.
Sob essas circunstâncias, os sapos pé-de-espinho provavelmente não seriam capazes de invadir o deserto porque
seu conteúdo hídrico inicial não seria suficiente durante os nove meses de
estação seca.
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Alguns outros anfíbios resistentes ao deserto
Um padrão diferente
de adaptação a condições áridas é observado em algumas pererecas. Uma perereca africana
(Chiromantis xerampelina) da família Rhacophoridae e uma perereca sul americana (Phyllomedusa sauvagei) da família Hylidae, perdem água através da pele a uma taxa de apenas um décimo
daquela da maioria das rãs.
As pererecas do gênero Phyllomedusa, alcançam essa baixa taxa e perda de água por evaporação, utilizando suas patas para espalharas secreções lipídicas de glândulas dérmicas sobre a superfície corporal, seguindo uma sequência complexa de movimentos de limpeza. Essas duas pererecas também são incomuns porque eles excretam ácido úrico ao invés de ureia, e essa característica reduz sua perda de água pela urina.
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Referências
POUGH, F. Harvery; JANIS, Christine M; HEISER, John B. A
vida dos vertebrados. Atheneu Editora São Paulo, 2006.
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