Qual é a função da fosseta loreal nas cobras venenosas?

Poucas pessoas sabem que há diferenças entre cobras venenosas e não venenosas. E uma características para diferenciá-las é pela fosseta loreal, mas qual é a função desse órgão sensorial?

https://www.bioorbis.org/2020/01/qual-funcao-fosseta-loreal-serpente-venenosa.html
Está é uma cobra cascavel (Crotalus), você consegue achar onde está a fosseta loreal? Imagem de Herbert Aust por Pixabay

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AS COBRAS VENENOSAS E NÃO VENENOSAS


O termo serpente não peçonhenta, apesar, das divergências entre pesquisadores, pode ser definido para aquelas serpentes que produzem uma substância tóxica (veneno), mas não apresentam um aparelho inoculador, sendo que, aquelas que apresentam aparelho excretor voluntário são as venenosas ativas, e as que não apresentam tal aparelho são ditas venenosas passivas.

As serpentes não peçonhentas representam cerca de 80% da fauna ofídica brasileira, e estão distribuídas por sete famílias: Anomalepididae, Leptotyphlopidae, Aniliidae, Boidae, Tropidophiidae e Colubridae, distribuídas por todo o território brasileiro, com mais de duas centenas de espécies.

Para saber mais sobre a diferença entre as serpentes venenosas e não venenosas, já temos uma postagem só sobre elas, veja neste link abaixo:

OS SENTIDOS DAS COBRAS E OS ÓRGÃOS SENSORIAIS


Antes de saber a função da fosseta loreal, você primeiro precisa saber como as cobras interagem com o ambiente ao seu redor com seu sentidos.

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Visão das cobras


A visão apresenta diversos graus de desenvolvimento nos diferentes grupos de serpentes, mas, em geral, a acomodação visual é ineficiente. Sendo míopes, as serpentes têm esse sentido muito mais vinculado à detecção de movimentos do que de formas: um objeto parado à frente não é percebido.

Olfato das cobras


O olfato é bastante apurado nas cobras, variável com os hábitos das diferentes espécies. No entanto, este sentido não está relacionado à presença do epitélio das fossas nasais, que parecem ser apenas responsáveis pelo acondicionamento e condução do ar para a respiração.

Alternativamente, mediante movimentos vibratórios da fina e comprida língua, as serpentes fazem uma varredura de partículas suspensas no ar que a extremidade bifurcada se encarrega de conduzir para o órgão de Jacobson, que é uma estrutura quimiorreceptora especializada, revestida por epitélio sensorial, situada no céu da boca das cobras.

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A audição das serpentes


A audição de sons transmitidos pelo ar é praticamente inexistente nas serpentes, devido à falta de ouvido externo e médio nesses animais. O ouvido interno está conectado por uma delicada estrutura óssea, a columela, ao osso quadrado, que se articula com a mandíbula. Essa característica confere às serpentes uma particular sensibilidade às vibrações do substrato sobre o qual se encontram.

A termorrecepção nas serpentes


A termorrecepção é uma interessante adaptação que está presente em duas famílias de serpentes, a Boidae e a Viperidae. Essa adaptação permite a essas cobras uma maior facilidade na detecção, aproximação e captura do alimento, que são presas como aves e mamíferos, emissores de radiação infravermelha.

A FUNÇÃO DA FOSSETA LOREAL NAS COBRAS VENENOSAS


A fosseta loreal é um órgão sensorial termorreceptor, que está presente nas cobras peçonhentas. Ele permite a percepção das diferenças de temperatura no ambiente. Agora vamos ver onde as fossetas loreal estão localizadas e sua sensibilidade para perceber o ambiente.

Localização da fosseta loreal


A fosseta loreal localiza-se ligeiramente abaixo da linha que separa o olho da narina, a cada lado do rosto, e está contida numa cavidade do osso maxilar. É um órgão que sempre chamou a atenção dos pesquisadores que, desde a primeira metade do século XX, observaram que cascavéis com os olhos tampados acertavam o bote em lâmpadas elétricas acesas, enquanto não se interessavam por elas quando tinham as fossetas tampadas.

Cada fosseta consta de uma abertura estreita que se comunica com uma ampla câmara interna, divindade em dois compartimentos por uma membrana de 15 micra de espessura que representa o componente sensorial do órgão. Na membrana, concentram-se quase todas as terminações nervosas dos ramos oftálmico e maxilar do trigêmeo. Essas terminações são semelhantes aos receptores de calor da pele dos mamíferos.

Sensibilidade da fosseta loreal


A grande diferença de sensibilidade se dá por dois fatores importantes: enquanto no homem as terminações se encontram a uma profundidade de 300 micra, na fosseta loreal elas estão a apenas 2 micra da superfície; a segunda diferença é que a fosseta loreal consegue concentrar toda a energia que incide sobre a membrana, pelo fato desta encontrar-se estendida entre duas camadas de ar, evitando assim, a perda de calor por difusão nos tecidos adjacentes, o que ocorre na pele. O resultado é que diferenças de 0,003ºC ao nível da superfície da membrana produzem uma apreciável mudança na frequência de descarga de fibras nervosas. Essa frequência aumenta com o calor (radiação infravermelha entre 0,5 e 15 micra de comprimento de onda), e pode ser inibida por um estímulo mais frio que o fundo.

Alguns dos achados mais surpreendentes sobre as fosseta loreal foram feitos por Newman & Hartline (1982), que também descobriram que os estímulos provenientes das fosseta loreal integraram-se, no cérebro médio, com os procedentes dos olhos (detecção de luz visível), dando a essas serpentes uma capacidade surpreendente para localizar seu alimento num amplo espectro de situações, tanto em pleno dia, ao crepúsculo ou na noite mais escura.

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OUTROS ÓRGÃOS SENSORIAIS DAS COBRAS


Os lagartos são os parentes viventes mais próximos das cobras. As cobras podem ter evoluído a partir dos lagartos, ou ambos os grupos podem compartilhar um ancestral comum.

O que é especialmente intrigante sobre a origem das cobras é o fato de que sua derivação a partir dos lagartos ou ancestrais parecidos com lagartos pode ter incluído uma fase fossorial (animais adaptados para escavar o solo, normalmente possuindo pernas ou outros aparatos para esse fim, veja na Figura 4) na qual os fotorreceptores foram reduzidos.

Depois dessa extensa fase fossorial, as cobras mais modernas teriam se irradiado de volta para habitats acima do solo. Os fotorreceptores que regrediram durante a fase fossorial foram, de certo modo, reconstruídos para atender as exigências adaptativas das espécies que passaram a ter estilos de vida ativos durante o dia.

Os olhos dos vertebrados


A visão de que cobras passaram por um período fossorial foi defendida por Gordon Lynn Walls no início da década de 1940. Foi inspirada pelo seu estudo monumental do olho dos vertebrados.

Walls notou que o olho das cobras era muito diferente do olho de todos os outros répteis, incluindo os lagartos. Por exemplo, a acomodação do olho do lagarto ocorre por meio de uma mudança na forma do cristalino. Nas cobras, ocorre movendo-se o cristalino para frente ou para trás. Tipicamente, os lagartos têm três pálpebras móveis: superior, inferior e membrana nictitante. As cobras não têm nenhuma. 

Ao contrário, a córnea das cobras é coberta por uma membrana externa, que é um derivado transporte da pálpebra e tem posição fixa. Ossículos escleróticos ocorrem em alguns lagartos mas estão ausentes em todas as cobras. Nas retinas dos lagartos diurnos, estão presentes cones e bastonetes distintos, porém, nas cobras, os “cones” parecem ser bastonetes modificados que atuam na percepção de cor. Walls notou diferenças adicionais na circulação, na estrutura interna e na composição química que atestam a particularidade do olho das cobras, não apenas entre os répteis mas também dentre todos os outros vertebrados. Para Walls, o olho da cobras parecia ser único.

Walls propôs que essas peculiaridades anatômicas do olho das cobras não poderiam ser facilmente explicadas se as cobras tivessem evoluído a partir de lagartos que vivem na superfície. 

Em vez disse, sugeriu que as cobras tivessem evoluído a partir de formas nas quais os olhos fossem reduzidos, em associação com condições de baixa iluminação. Propôs que as cobras tivessem passado por uma fase de vida em tocas. Segundo sua ideia, a restruturação do olho ocorreu conforme as cobras se irradiaram de volta para a vida na superfície e em condições diurnas.

Órgãos sensoriais das cobras


Outros fotorreceptores das cobras mostram evidências semelhantes de reconstrução a partir de um padrão reptiliano regredido. Por exemplo, o órgão parcial de muitos lagartos é altamente desenvolvido em um órgão fotorreceptor que inclui um cristalino e uma camada fotorreceptora.

osso parietal dos lagartos ocupa uma abertura no crânio e fica abaixo da pele, onde tem acesso direto à luz natural. Entretanto, nas cobras, o parietal é perdido completamente e apenas a porção basal da epífise (pineal) é mantida. Na epífise remanescente dos ofídios, apenas pinealócitos secretores estão presentes e a glândula pineal está abaixo do crânio.

A questão sobre se a origem das cobras inclui uma fase fossorial ou apenas uma fase noturna durante a qual os ancestrais das cobras viveram sob condições de baixa luminosidade ainda é controvertida. De qualquer forma, os fotorreceptores especiais das cobras são certamente uma radial divergência daqueles de outros répteis.

Referências
CARDOSO, et al. Animais peçonhentos no Brasil. Biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. Editora Sarvier, 2009.
Newman EA, Hartline PH. The infrared “vision” of snakes. Scientific American 1982:246(2):88-98.

3 comentários:

  1. Queria saber o significado da palavra LOREAL ?
    Sempre confundo com fosseta(substantivo feminino
    Pequena fossa-Cavidade no corpo de pessoas e animais) lateral.

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    Respostas
    1. Olá Rubens. Até onde sei a palavra "fosseta loreal" é o nome do órgão em si. Sendo fosseta = cavidade, e loreal = talvez a função que no qual é designada, ou seja o termoreceptor.

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  2. Queria saber o significado da palavra LOREAL ?
    Sempre confundo com fosseta(substantivo feminino
    Pequena fossa-Cavidade no corpo de pessoas e animais) lateral.

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