COMO É A VISÃO, O PALADAR, O TATO E OS OUTROS SENTIDOS DOS PEIXES NA ÁGUA?
A água tem propriedades que influenciam os comportamentos
dos peixes e de outros vertebrados aquáticos. A luz é absorvida pelas moléculas
de água e espalhada pelas partículas em suspensão.
Foto: Cleverson Felix. |
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Os objetos se tornam
invisíveis a uma distância de apenas algumas centenas de metros, mesmo nas
águas mais limpa, enquanto a visão à distância é quase ilimitada no ar limpo.
Os peixes complementam a visão com outros sentidos, alguns dos quais só podem
operar na água.
OS SENTIDOS NO MEIO AQUÁTICO
O mais importante
destes sentidos aquáticos é a detecção de movimento da água por meio do sistema da linha lateral. Pequenas correntes de água podem estimular os órgãos
sensoriais da linha lateral, pois a água é densa e viscosa. A sensitividade elétrica é outro modo
sensorial que depende das propriedades da água e não funciona no ar. Neste
caso, a condutividade da água é a chave. E até mesmo a visão é diferente na
água e no ar, devido às diferentes propriedades de retração dos dois meios.
Visão dos peixes
Os vertebrados
geralmente têm olhos bem desenvolvidos, mas a forma pela qual uma imagem é
focalizada na retina é distinta em animais aquáticos e terrestres. O ar tem por
definição um índice de refração de 1,00, e os raios luminosos se curvam assim
que atravessam. Os raios de luz se curvam quando atravessam o limite entre
meios com índices de refração diferentes. O grau de desvio da luz é
proporcional à diferença entre os índices de refração. A água tem um índice de
refração de 1,33, e o desvio da luz assim que ela atravessa o limite ar água
dão a impressão de que os objetos embaixo d'água estão mais próximos do
observador que está fora da água do que realmente eles estão. A córnea do olho
dos vertebrados terrestres e aquáticos, tem um índice de refração de cerca de
1,37, deste modo, a luz se desvia assim que atravessa a interface ar - córnea.
Como resultado, a
córnea de um vertebrado terrestre desempenha um papel importante na focalização
de uma imagem na retina. Esta relação
não ocorre na água, já que o índice de retração da córnea é muito próximo ao da
água, não havendo um desvio significativo dos raios luminosos. As lentes (o
cristalino) são a estrutura mais importante na focalização da luz sobre a retina
de um vertebrado aquático, e os peixes têm cristalinos esféricos com um alto
índice de refração.
A lente (cristalino) inteira
se move para frente e para longe da retina para focalizar objetos localizados a
diferentes distâncias do peixe. Os vertebrados terrestres têm cristalinos
achatados, e músculos oculares que modificam a forma dessa lente para focar imagens.
Os mamíferos aquáticos tais como baleias e golfinhos têm cristalinos esféricos
semelhantes àquele dos peixes.
Paladar dos peixes
Peixes possuem
quimiorreceptores na boca, ao redor da cabeça e nas nadadeiras peitorais. Além
disso, receptores químicos generalizados detectam substâncias pouco solúveis na
água, e os órgãos olfatórios no focinho detectam substâncias solúveis. Tubarões
e salmões podem detectar odores em concentrações menores que 1 parte por
bilhão.
Salmões em migração
dirigem-se às corredeiras dos rios onde nasceram, através de distâncias incríveis,
por meio de um sinal químico, permanentemente gravado em suas memórias desde quando
eram juvenis. Bloqueando-se os órgãos olfatórios dos salmões, destruímos sua
habilidade de migração.
Tato dos peixes
Receptores mecânicos
fornecem a base para a detecção do deslocamento - o toque, o som, a pressão e o
movimento. Como todos os vertebrados, os peixes possuem uma orelha interna (o
órgão labirinto, não confundir com o órgão, de mesmo nome, que auxilia a
respiração de peixes anabantídeos) que detecta alterações de velocidade e de
direção do movimento. Os peixes também apresentam detectores de gravidade na
base dos canais semicirculares, os quais permitem que distingam em cima e
embaixo. A maioria dos vertebrados terrestres também possui uma região auditiva
da orelha interna que é sensível à pressão das ondas sonoras. Estas funções
diversas do labirinto dependem de tipos basicamente similares de células
sensoriais, as células ciliadas.
Nos peixes e nos
anfíbios, agrupamentos de células ciliadas associadas a células de suporte
formam os órgãos neuromastos, os quais estão espalhados sobre a superfície da
cabeça e do corpo. Em peixes com mandíbula, os órgãos neuromastos geralmente
estão localizados no interior de uma série de canais na cabeça, e um ou mais
canais percorrem as laterais do corpo, chegando até a cauda. Este sistema receptor
de superfície dos peixes e anfíbios é denominado de sistema da linha
lateral. O sistema da linha lateral só é encontrado apenas nos vertebrados
aquáticos, pois o ar não é denso o bastante para estimular os órgãos neuromastos.
As larvas de anfíbios têm sistemas de linhas laterais, e os canais laterais são
retidos nos adultos de anfíbios, tais como a rã africana com garras e
as salamandras, mas são perdidos nas espécies adultas terrestres. Os
vertebrados terrestres que retomaram secundariamente para a água, tais como as
baleias e golfinhos, não possuem o sistema da linha lateral.
DETECTANDO O DESLOCAMENTO DA ÁGUA: O SISTEMA DE LINHA LATERAL DOS PEIXES
Os neuromastos do
sistema da linha lateral são distribuídos em duas configurações - no interior
de canais tabulares ou expostos em depressões epidérmicas. Muitos tipos de
peixes têm esses dois tipos de arranjo. Células ciliadas possuem um cinocílio
posicionado assimetricamente em um agrupamento de microvilos. As células
ciliadas são arranjadas em pares, com os cinocílio posicionados sobre lados
opostos das células adjacentes. Um neuromasto contém muitos destes pares de
células ciliadas. Cada neuromasto apresenta dois nervos aferentes: um transmite impulsos das células ciliadas,
com cinocílios, em uma posição, e o outro transporta impulsos das células com cinocílios na posição diametralmente oposta (a 180°). Este arranjo permite que o peixe determine
a direção do deslocamento dos cinocílios.
Todos os cinocílios e
os microvilos estão embebidos em uma estrutura gelatinosa, a cúpula. O
deslocamento da cúpula faz com que os cinocílios se curvem. A deformação resultante
excita ou inibe a descarga nervosa do nervo do neuromasto. Assim, cada par de
células ciliadas sinaliza a direção do deslocamento da cúpula. A informação de
excitação de cada par tem um máximo de rendimento excitatório ao deslocamento
ao longo da linha onde se posicionam os cinocílios, diminuindo sua eficácia em
outras direções.
O rendimento líquido
do deslocamento da cúpula é o aumento da taxa de disparos, em um dos nervos
aferentes, e a sua diminuição no ouro nervo. Essas alterações nas taxas de disparo
dos nervos da linha lateral informam, portanto, um peixe sobre a direção das
correntes de água sobre as superfícies distintas de seu corpo. Correntes de
água de somente 0,025 mm/s são detectadas pelos neuromastos expostos da rã africana com garras, Xenopus laevis, com
uma resposta máxima a correntes de 2 a 3 mm/s. Respostas similares ocorrem nos
peixes.
Os órgãos das linhas
laterais também respondem a sons de baixas frequências, mas há controvérsias quanto
ao fato de o som ser um estimulante natural da linha lateral. O som induz o
transporte de ondas de pressão na água e, também, provoca o deslocamento da
água, conforme a onda de pressão se movimenta. Tem sido difícil esclarecer se a
resposta do neuromasto resulta dos movimentos da água sobre a superfície do
corpo ou da compressão da onda sonora.
Diversos peixes que
se alimentam na superfície e as rãs africanas aquáticas com garras fornecem
bons exemplos de como os órgãos da linha lateral agem sob condições naturais.
Estes animais detectam insetos na superfície da água por meio da percepção das ondas
criadas pelos movimentos das presas. Cada grupo de neuromastos, na cabeça do
peixe, Aplocheilus lineatus, fornece
informações acerca das ondas de superfície oriundas de direções diferentes.
Entretanto, todos os
grupos apresentam campos de estímulos sobrepostos. A remoção de um grupo de
neuromastos, de um lado da cabeça, interfere com a resposta ao estímulo direcional,
demonstrando que um peixe combina informações oriundas de grupos em ambos os
lados da cabeça para interpretar os movimentos da água.
O grande número de
neuromastos sobre a cabeça de alguns peixes pode ser importante para perceber a
intensidade dos redemoinhos arrastados nas esteiras dos peixes adjacentes em um
cardume. Muitos dos peixes que formam cardumes extremamente densos (sardinhas,
peixe-agulha, tainhas) perdem os órgãos da linha lateral ao longo dos flancos,
retendo os órgãos dos canais da linha lateral somente na cabeça.
Estes órgãos
cefálicos canalizados bem desenvolvidos concentram a sensibilidade ao movimento
da água na cabeça, onde é necessária para a percepção da turbulência na qual o
peixe está nadando; e a redução dos elementos da linha lateral nos flancos deve
reduzir a interferência da turbulência ao lado do peixe.
PEIXES QUE USAM DESCARGA ELÉTRICA
Diferentemente do ar,
a água conduz eletricidade, e a água do mar é um condutor melhor de
eletricidade do que a água doce, pois contém mais sais dissolvidos. A alta
condutividade da água do mar torna possível, aos tubarões, a detecção da
atividade elétrica que acompanha as contrações musculares de suas presas. A eletricidade
também pode ser uma arma - a raia torpedo, do Mediterrâneo, o bagre elétrico do
Rio Nilo e o peixe-elétrico (o poraquê) da América do Sul, podem liberar
descargas com energia suficientes para capturar presas e para deter predadores.
E os peixes de
eletricidade mais fraca, como os Gymnotidae, da América do Sul, e o
peixe-elefante (Mormyridae), da África, utilizam sinais elétricos para a corte
e defesa territorial. Todos estes peixes elétricos usam tecidos musculares modificados
para produzir a descarga elétrica. As células de tais músculos modificados,
chamadas de eletrócitos, perderam a capacidade
de contração, sendo especializadas na geração de um fluxo de corrente de íons.
Quando em repouso, as membranas das células musculares e das células nervosas estão
carregadas eletricamente, com os fluidos intracelulares com uma carga negativa
ao redor de 84 mv, em relação aos fluidos extracelulares. Tal situação se deve,
principalmente, à exclusão dos íons de sódio. Quando a célula é estimulada, os íons
de sódio são rapidamente transportados sobre a superfície lisa, elevando o
potencial para um valor de 67 mv positivos.
Somente a superfície
lisa é despolarizada; a superfície rugosa permanece os -8 4 mv, de forma que a
diferença de potencial ao longo da célula, é de 151 mv (de -8 4 a +67 mv). Como
os eletrócitos estão arranjados em pilhas, como as pilhas de uma lanterna, os
potenciais de muitas camadas de células se combinam para produzir altas voltagens.
O peixe-elétrico da América do Sul, o poraquê, possui mais de 10.000 camadas de
células e pode gerar potenciais acima de 600 volts.
A maioria dos peixes elétricos
é encontrada em água doce de regiões tropicais da África e da América do Sul. Poucas
formas marinhas podem gerar descargas elétricas especializadas - dentre os
elasmobrânquios marinhos, somente a raia torpedo (Torpedo) e o gênero de raias Narcine e alguns outros gêneros de raias
são elétricos; e entre os teleósteos marinhos, somente os miracéu (da família
Uranos-copidae) produzem descargas especializadas.
A ELETRORRECEPÇÃO NOS PEIXES
Muitos peixes,
especialmente os elasmobrânquios, são capazes de detectar campos elétricos.
Tubarões têm estruturas, conhecidas como
ampola de Lorenzini, em suas cabeças, e as raias as possuem em suas
nadadeiras peitorais. As ampolas são eletrorreceptores sensíveis (Figura 5). O
canal que conecta o receptor ao poro da superfície é preenchido por um gel
condutor de eletricidade, e a parede do canal não é condutora. Já que o canal se estende por alguma
distância abaixo da epiderme, a célula sensorial pode detectar uma diferença de
potencial elétrico entre o tecido no qual ela se encontra (o qual reflete a
epiderme adjacente e o ambiente) e a distância da abertura do poro. Assim, o
eletrorreceptor pode detectar campos elétricos, os quais são alterações dos
potenciais elétricos no espaço.
A célula
eletrorreceptora ancestral era uma modificação da célula ciliada da linha lateral.
Os eletrorreceptores dos tubarões respondem a alterações mínimas de campos elétricos
que circundam o animal. Eles agem como voltímetros, medindo a diferença dos potenciais
elétricos em locações discretas por toda a superfície do corpo. A sensibilidade
à voltagem é marcante. Os órgãos ampulares têm limites menores do que 0,01 milivolt
por centímetro, um nível de detecção alcançado somente pelos melhores voltímetros.
Os tubarões usam a
percepção elétrica para detectar presas. Toda atividade muscular gera um
potencial elétrico: células nervosas motoras produzem alterações extremamente
rápidas no potencial elétrico, e a contração muscular gera modificações de
duração maior. Além disso, um potencial constante é liberado por um organismo
aquático como resultado do balanço químico entre o organismo e seu meio.
Um tubarão pode
localizar e atacar um peixe escondido, por meio apenas da percepção das descargas
elétricas produzidas pela presa. O gel glicoprotéico que preenche os
canais podem responder a variações de temperatura menores que 0.001°C. Muitos
tubarões detectam gradientes de temperatura dos mares, e podem usar essa habilidade
para localizar os limites entre massas de água, com diferentes temperaturas,
onde as concentrações de peixes, potenciais presas, são prováveis de serem
encontradas (Brown 2003).
Os tubarões podem utilizar a eletrorrecepção também para a navegação. O
campo eletromagnético da superfície da Terra produz pequenos gradientes de
voltagem, e um tubarão em movimento pode detectar gradientes ao redor de 0,4
mv/cm - bem acima do nível que pode ser detectado pelos órgãos ampulares. Ainda,
correntes oceânicas geram gradientes elétricos próximos a 0,5 mv/cm, conforme
carregam íons pelo campo magnético da Terra.
Referências
BROWN, B. R. Sensing temperature without ion channels.
Nature 421:495. 2003.
POUGH, F. Harvery; JANIS, Christine M; HEISER, John B. A
vida dos vertebrados. Atheneu Editora São Paulo, 2006.
Quem conhece a cidade de Bonito no MS sabe das beleza das águas cristalinas do rio Formoso cujo fundo é constituído de calcáreo - ao banhista parece que está flutuando no espaço pois o fundo do rio é visível e transparente - com a companhia dos peixes do rio, principalmente os Dourados..., lugar de sonhos...
ResponderExcluirOlá Guilherme Santos,
ExcluirPrimeiramente agradecemos pelo comentário. Que maravilhas você nos conta. Realmente tem lugares únicos e paradisíacos em nosso país. Continue contando para nós seus relatos e histórias de viagem.
Um grande abraço. Equipe BioOrbis.