O EUCALIPTO: HERÓI OU VILÃO PARA AS FLORESTAS NATIVAS BRASILEIRAS?
Quando se ouve falar em Eucalipto, a maioria das pessoas,
bem informadas ou leigas logo remetem a um pensamento negativo.
Imagem de Rodrigo Campos por Pixabay |
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Espécies exóticas invasoras, são organismos considerados
que, introduzidos fora de sua área de distribuição natural, ameaçam
ecossistemas, habitats ou outras espécies, sendo consideradas a segunda maior
causa de redução de biodiversidade do planeta, só perdendo para a destruição de
habitats (UICN, 2000).
O EUCALIPTO
O eucalipto que do grego,
eu +
καλύπτω = “verdadeira cobertura” ou “bem coberto” é uma designação vulgar
para várias espécies vegetais do gênero Eucalyptus,
pertencente à família das Mirtáceas, que possuem outros 130 gêneros (VITAL,
2007).
Os Eucaliptos são naturalmente originários
da Austrália, existindo apenas pequenas quantidades de espécies próprias dos
países vizinhos como a Nova Guiné e Indonésia, e uma espécie ao sul das
Filipinas. Por ser nativo desses países, o eucalipto tem uma grande resistência
por causa do clima de sua origem (HASSE, 2006).
O eucalipto é uma
espécie muito utilizada para o reflorestamento no mundo todo, segundo Vital
(2007), o Brasil possui cerca de 8,5 milhões de quilômetros quadrados,
aproximadamente 63,7% são compostos por florestas nativas, 23,2% são ocupados
por pastagens, 6,8% pela agricultura, 4,8% pelas redes de infraestrutura e
áreas urbanas, 0,9% por culturas permanentes e apenas 0,6% abrigam florestas
plantadas.
Atualmente, as
plantações de eucalipto estão presentes nas mais diversas regiões do mundo,
localizadas em diferentes altitudes, diferentes tipos de solo, sob diferentes
regimes pluviométricos (VITAL, 2007).
De modo geral são criticadas em vários estudos sobre
os seus efeitos no solo, tais como empobrecimento e erosão, efeitos nas águas,
tais como impactos sobre a umidade do solo, os aquíferos e lençóis freáticos,
bem como efeitos sobre a baixa biodiversidade tendo em vista as monoculturas.
De acordo com Vital
(2007), os impactos ambientais das florestas de eucalipto dependem das
condições prévias ao plantio, tais
como, o bioma onde será plantada, a densidade pluviométrica da região, os tipos de solo, a declividade dos solos e a distância
das bacias hidrográficas. E também das técnicas agrícolas empregadas, tais
como a densidade do plantio, métodos de colheita, presença ou não de corredores
biológicos e atividades associadas.
Breve história do eucalipto no Brasil
Não se sabe ao certo
a data em que o eucalipto foi inserido no Brasil. O artigo “Eucaliptos para o
Brasil”, de Armando Navarro Sampaio, citado no artigo de Viana (2004), informa
que os primeiros eucaliptos plantados foram na região do Rio Grande do Sul, por
volta de 1868, por Frederico de Albuquerque, e no mesmo ano o Primeiro-Tenente
da Marinha, Pereira da Cunha, também plantou alguns exemplares na região da
Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.
Pelo final do século
XIX e início do século XX, o eucalipto era plantado apenas como uma árvore de
decoração, como quebra-ventos, pelo seu rápido desenvolvimento e crescimento ou
possivelmente também pela suas supostas propriedades sanitárias.
IMPACTOS AMBIENTAIS DO EUCALIPTO
No Brasil, se adota a definição oficial, explicitada
pelo artigo 1°, da Resolução N° 1 do
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, de 23 de janeiro de 1986, a qual
instituiu a Avaliação de Impactos Ambientais no Brasil.
Segundo esse dispositivo legal, impacto ambiental é:
“Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente;
V - e a qualidade dos recursos ambientais.”
Impacto do eucalipto na Água
Em relação ao seu consumo de água tem críticas
direcionadas que se referem ao fato do se consumo excessivo de água e seus
possíveis impactos sobre a umidade do solo, os rios e lençóis freáticos (VITAL,
2007).
Segundo Vital (2007), “basicamente,
o eucalipto necessita captar CO² e O² do ar, para realizar, respectivamente,
duas importantes atividades metabólicas: a fotossíntese e a respiração,
sendo que a fotossíntese necessita, ainda, da água retirada do solo.”
No estudo
de Davidson (1993), observa-se que em regiões onde o volume pluviométrico é inferior a 400 mm/ano, as
plantações de eucalipto podem levar ao ressecamento do solo, mas os volumes
forem maiores as possibilidades de ressecamento são mínimas. Em regiões onde o
solo prévio à plantação já estava degradado ou possuía baixos níveis de
fertilidade, as plantações de eucalipto podem elevar a quantidade de húmus na terra, melhorando as condições de fertilidade do solo. Para Vital (2007),
pondera-se que no processo de crescimento, a floresta utiliza, além da água e
dos nutrientes, energia solar e dióxido de carbono, para a fotossíntese, e
utiliza oxigênio, devolvendo água e gás carbônico, na sua respiração. Visto
isso, impactos relacionados a atmosfera, de florestas de eucalipto pode ser um
impacto somente positivo e bastante benéfico se visado seu plantio em escala.
“De modo
geral, as plantações brasileiras de eucalipto situam-se em áreas de volume
pluviométrico acima de 1.000 mm/ano” (VITAL, 2007). Dessa forma, mesmo com
grande volume de água consumido pelas plantações, não é esperado que ocorra
déficit hídrico nestas regiões.
Impactos do eucalipto no Solo
De acordo com Palmberg (2002), “a
remoção de nutrientes do solo em plantações de eucalipto depende: das técnicas de manejo das plantações; e dos
métodos de colheita. O consumo de nutrientes por árvores de
eucalipto não é maior do que o consumo de outras culturas agrícolas.” O impacto ambiental
das florestas plantadas sobre o solo também depende do bioma em que está
inserida, ou seja, das condições do solo prévias à implantação das plantações
(VITAL, 2007). Bouvet (1999),
por exemplo, retrata que, “quando plantado em áreas degradadas ou de savana, é
possível observar substancial elevação da quantidade de húmus na terra.” Davidson
(1985) afirma ainda que, em termos gerais, os eucaliptos consomem menos
nutrientes por quantidade de madeira produzida do que outras culturas agrícolas,
sendo, portanto, eficientes também no consumo de nutrientes.
A maioria
das formas de eucalipto não é adequada para o controle da erosão, sobretudo por
gerar insuficientes resíduos orgânicos (folhas e galhos) para cobrir o solo e
por interceptar pouca água da chuva (VITAL, 2007). Por outro lado, por gerar
barreiras contra o vento, o eucalipto reduz a erosão por ele causada.
Impactos do eucalipto no Ar
Para o
crescimento das florestas, utilizam, além da água e dos nutrientes, energia
solar e dióxido de carbono (para a fotossíntese) e utiliza oxigênio (devolvendo
água e gás carbônico) na respiração.
Impactos do eucalipto na Biodiversidade
Em
relação a biodiversidade, Davidson (1985) afirma que, “uma monocultura jamais
será capaz de oferecer a mesma diversidade de produtos e benefícios oriundos
das florestas nativas”. Os
sub-bosques são de suma importância quando se trata da biodiversidade do
ambiente loca. Os sub-bosques são vegetações subarbustivas ou rasteiras que se
encontram no interior de florestas, principalmente atlântica (SANTOS, 1999). Em
relação a mastofauna, avifauna, herpetofauna e entomofauna, esse ambiente de
sub-bosque são fundamentais para a manutenção dessas faunas vigentes.
Impactos do eucalipto na Flora
De acordo
com Davidson (1985), “a substituição da cobertura vegetal original, geralmente
com várias espécies de plantas, por uma cultura única, seja nativa ou exótica,
é, na maioria das vezes, uma prática danosa à biodiversidade.”
Em
regiões onde há baixa umidade e uma escassez de nutrientes, algumas espécies de
eucalipto podem gerar efeitos negativos sobre a vegetação local e até mesmo
sobre plantas mais jovens da mesma espécie, oriundos da competição por
nutrientes e água (DAVIDSON, 1985).
Impactos do eucalipto sobre os Mamíferos
Existem poucos estudos
relacionados a mastofauna, em grandes monoculturas de eucalipto. Os mamíferos
desempenham grande papel dentro das grandes florestas, como a interação animal
planta, relações que envolvem a polinização, dispersão de sementes e
herbivoria/predação.
Florestas plantadas onde foi desmatado
antes era uma floresta nativa, com agora talhões homogêneos, representam uma
matriz pobre, na qual animais gastam mais energia para encontrar alimento, do
que adquirem para sua sobrevivência e de seus filhotes. De acordo com Silveira
(2005), os sub-bosques das florestas de eucalipto, são muito importantes, pois
atuam de forma preponderante dentro do local e distribuição da fauna nessas
florestas.
De acordo
com o estudo desenvolvido de Silva (2002), ela objetivou verificar a riqueza, a
composição específica e a diversidade das espécies de mastofauna existentes numa
área plantada por Eucalyptus saligna em divisa com fragmentos de
floresta atlântica. Na área de estudo, ela observou 47 espécies de mamíferos,
entre elas espécies ameaçadas de extinção como o Puma concolor e o Myrmecophaga
trydactyla. A diversidade dessas espécies encontradas foi semelhante nos
fragmentos de floresta nativa e menor nos cultivos de E. saligna. Ela
concluiu dizendo que os plantios de E. saligna, se devidamente
manejados, podem ser localmente importantes na conservação da mastofauna de não-voadores,
pois esse ambiente é utilizado como habitat
por muitas espécies.
Impacto do eucalipto sobre as Aves
As
aves também desempenham papéis fundamentais na manutenção dos ecossistemas
florestais, entre elas, tais como os mamíferos e insetos, a polinização,
dispersão de sementes, predação de invertebrados e servem também de alimento
para outras aves e outros animais.
De
acordo com Almeida (1979), “uma forma para aumentar a diversidade de pássaros
em monoculturas de eucalipto seria a plantação intercalada dos eucaliptos com
árvores frutíferas, que sirvam de alimento para uma gama inferior de espécies”.
As florestas de eucalipto podem servir, por exemplo, como refúgio,
casa ou ninho de diversas espécies de pássaros, o que não acontece, por
exemplo, com cultivos com plantas de menor porte como cafezais, canaviais e
outras espécies agrícolas utilizadas em monoculturas (VITAL, 2007).
Impacto do eucalipto sobre os Répteis
Os
répteis também desempenham papéis fundamentais, tais como o controle das
populações de insetos, fonte de alimento para a cadeia trófica e a sua
importância médica, em relação aos venenos.
Um
estudo realizado por Alves (2014), “mostra que apesar dos ecossistemas
campestres serem considerados altamente susceptíveis aos impactos da
silvicultura, ainda são praticamente desconhecidos os efeitos dessa atividade
sobre a herpetofauna dos campos.”
Mas
é esperado que os anfíbios e répteis sejam negativamente afetados pela
plantação de eucaliptos, já que, a maioria dos répteis só conseguem sobreviver
em um ou em poucos ambientes distintos, e assim respondem à degradação
ambiental e ao desequilíbrio. E os anfíbios possuem pele altamente permeável e
ovos desprotegidos, o que limita sua ocorrência em habitats excessivamente
ácidos ou alcalinos.
Impacto do eucalipto sobre os Insetos
Os
insetos estão entre os mais populosos animais do planeta, e são de suma
importância para a manutenção das florestas e solos, e mais ainda no equilíbrio
ecológico dos sistemas, e também possuem importância médica em relação a
doenças, tais como a doença de chagas, febre amarela, etc.
Para se ter uma ideia em relação a entomofauna, algumas espécies
de eucaliptos são vulneráveis ao surgimento rápido de pragas. Um grande número
de lepidópteros e coleópteros nativos, assim como de formigas cortadeiras,
têm-se tornado pragas em eucaliptais plantados no Brasil. Somente o fato da
mudança de um ambiente, uma floresta para uma monocultura pode causar sérios
desequilíbrios dentro da entomofauna, sendo ela a base para a manutenção das
florestas.
Segundo
uma ampla revisão feita por Majer & Recher (1999), relacionadas aos
aspectos ambientais das plantações de eucalipto no Brasil. Visando a
entomofauna eles concluíram que a plantação causa impactos significativos sobre
a biodiversidade, riqueza e distribuição das espécies, proporcionando
desequilíbrio e tornando a floresta susceptível a diversas pragas.
O fato de que a serapilheira produzida sob a plantação de eucaliptos
difere substancialmente daquelas observadas em florestas nativas, tanto em
termos físicos, quanto químicos, criando uma série de problemas para a fauna de
decompositores. Se a diversidade de micro artrópodes é reduzida, o ciclo de
nutrientes pode ser comprometido nos plantios de eucaliptos (MAJER &
RECHER, 1999).
As copas de florestas nativas suportam grande diversidade e
biomassa de artrópodes, da qual servem de alimento para muitos pássaros,
répteis e mamíferos. Segundo Majer & Recher (1999), há evidências de que a
biomassa e a diversidade dos invertebrados são reduzidas drasticamente em copas
das plantações de eucaliptos.
HERÓI OU VILÃO?
Nota-se
que o eucalipto, mesmo sendo uma espécie exótica no Brasil, demonstra grande
vantagens ambientais. Contudo o eucalipto mostra ser uma espécie com vantagens
e que apresenta não só impactos negativos mas impactos positivos com maior
quantidade, porém isso fica aliado ao seu manejo correto e estudos prévios do
seu plantio.
Referências
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do tipo de vegetação nas populações de aves em uma floresta implantada de Pinus
spp, na região de Agudos-SP. Ipef, n. 18, jun. 1979.
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DAVIDSON, J. Ecological
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HASSE, G. Eucalipto:
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MAJER, J.D; RECHER, H.F. Are
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Tô gostando de seguir esta página e aprendendo têm sobre cajueiros e acai?
ResponderExcluirOlá Sebastião Carvalho,
ExcluirQue bom que esta aprendendo e gostando de nosso conteúdo. No momento ainda não temos postagens relacionadas ao açaí nem cajueiros. Mas pode ficar tranquilo e ligado no site que faremos uma sobre eles futuramente.
Um grande abraço,
Equipe BioOrbis.